Bem vindos,

Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

02 agosto 2013

O MOMENTO FUNDACIONAL DA FRELIMO EM ACCRA



A linha oficial da Frelimo desde sempre foi a seguinte: “A Frelimo foi fundada em Dar-es-Salaam, Tanzânia, em 25 de Junho de 1962.”
A partir da sua casa aqui na internet, Fernando Gil ontem deu mais um passo no sentido de esclarecer um pequeno detalhe relativo à história da organização que mais tarde combateu e recebeu o poder em Moçambique das autoridades coloniais.
Das figuras presentes na fotografia, apenas Marcelino dos Santos participou na fundação da FRELIMO em ACCRA

Segundo o testemunho do Sr. Dr. Jaime Maurício Khamba, que mais tarde consubstancia apresentando o documento fundacional que se reproduz em baixo, e de cujo original não sei bem quem tem posse, a Frente de Libertação de Moçambique terá sido, na génese, criada por moçambicanos de quem quase ninguém ouviu falar, na cidade de Accra, no Ghana, no dia 2 de Fevereiro de 1962.
Documento fundacional da FRELIMO em Accra com a respectiva data de 2/02/1962 


Quatro meses e meio antes e do outro lado de África em relação à Tânzania.
Alguém sabe quem foram os Srs. Mateus Michinji Mole, Lourenço Milinga, Hlomulo Chitofo Gwambe e Calvino Zeque Mahayeye?
Pois é. Muito poucos.
Para que conste.
A confirmar-se, louros para Fernando Gil e o Dr. Khamba, que ajudou assim a desvendar a história mais mal contada da história recente de Moçambique.

Do Reino ao Sul, João Cabrita pondera diferentemente e, com sua autorização, que agradeço reconhecidamente, reproduzo o seu comentário, que também foi encaminhado para o Sr. Fernando Gil:
Mateus Mmole e Lourenço Milinga eram dirigentes da MANU.
Hlomulo Chitofo Gwambe (mais conhecido por Adelino Gwambe) era o presidente da Udenamo. Calvino Mahayeye era membro deste movimento.
Uma leitura atenta do documento reproduzido hoje [...] deixa transparecer que a 2 de Fevereiro de 1962 houve o desejo dos moçambicanos filiados na UDENAMO e na MANU de formar a Frente de Libertação de Moçambique. Entre o desejo de se formar uma frente e a decisão de se criar essa mesma frente vai uma certa distância, de meses neste caso.
Efectivamente, o anúncio formal da criação da Frelimo foi feito em Acra (para grande irritação do governo do Tanganyika), mas em Junho de 1962, durante a African Freedom Fighters Conference, segundo o depoimento que obtive de Fanuel Mahluza, vice-presidente da Udenamo, e que ele próprio reitera no manuscrito que me entregou para publicação antes de morrer.
O título de capa do “Evening News”, diário publicado em Acra, de 6 de Junho de 1962, pp 1 e 2, é suficientemente elucidativo: “Mozambique parties answer Osagyefo’s close ranks call”.
Antes da partida das delegações da Udenamo e da MANU para Acra, estes dois movimentos estiveram reunidos em Dar es Salam sob os auspícios do governo tanzaniano (Tanganyika) tendo “finalmente decidido unir todas as forças patrióticas de Moçambique por meio da formação de uma frente comum”, segundo reza uma declaração emitida em Dar es Salam a 25 de Maio de 1962.
Segundo me relatou Mahluza, foi Marcelino dos Santos quem deu o nome à Frente de Libertação de Moçambique. Mahluza escolheu o acrónimo, Frelimo.
[...]
De facto, a ideia de se unir os dois movimentos surgiu em Dar es Salam face à política do governo tanzaniano em favorecer mais a MANU (essencialmente maconde e com fortes raízes no Tanganyika e que até advogava uma grande região maconde independente, integrada neste país) do que a Udenamo, por este movimento estar mais identificado com o Gana de Nkrumah, rival de Nyerere em questões nacionalistas. (A África Austral era como que zona exclusiva do Nyerere e que chocava com o pan-africanismo de Nkrumah). 
O Marcelino dos Santos apoiava a ideia da unificação, pois sem ela não era possível funcionar a partir do território tanzaniano. Portanto, da fotografia que reproduziu no seu blog [ver em cima] o Marcelino era o único da Frelimo à altura da independência que participou nesse processo. O Chissano estava em Paris, o Machel ainda não havia chegado (saiu de LM em Março de 1963).

In: http://delagoabayword.wordpress.com/category/historia-mocambique/fundacao-da-frelimo/


Nota do blog: Leia o relatório sobre a fundação da FRELIMO bastando clicar em http://macua.blogs.com/files/frelimo_fundacao_relatorio.pdf



Para mais informações sobre os documentos da FRELIMO consulte o site da biblioteca digital da University of Southern California. E só clicar: 

2 comentários:

Erudito disse...

Gostei da informacao! good DR. Continue nos actualizando e reavivando o nosso espirito de historiador, numa incessante busca pela verdade!

Nordito Pente disse...

A Historia Política de Moçambique está cheia de contradições e a pouco tempo atrás todos tinham medo de revelar esses saberes, mas os tempos são outros, tudo está a mudar e Mestre Jairoce ganhou a coragem e quebrou o silencia de a tanto tempo. Parabens pela coragem...